Resenha: “Directions in (Ethno)linguisctic theory”

HYMES, Dell. Directions in (Ethno)linguisctic theory. American Antropologyst, New Series, Vol.66, No. 3, Part 2: Transcultural Studies in Cognition, 1964, pp. 6-57

 

No texto intitulado “Directions in (Ethno)linguisctic theory”, Dell Hymes propõe a tese de que a teoria linguística, a fim de ser completa, deve estabelecer necessariamente uma relação com outras disciplinas sociais, como a filosofia, a psicologia e, particularmente, a etnografia. Isto é, a teoria linguística não deve apenas estudar os sistemas linguísticos, mas também os sistemas etnolinguísticos e a dependência parcial entre propriedades de sistemas linguísticos, por um lado, e características dos seus usuários e circunstâncias de uso, por outro.

A teoria linguística que tinha sido desenvolvida, previamente ao novo direcionamento que Hymes propõe nesse texto, foi, lamenta o autor, uma que não fomentou a interação com outras disciplinas preocupadas com a linguagem. Entre os maiores representantes dessa linguística moderna do início do século XX se encontram Saussure e Sapir, seguidos por Jakobson, Hockett e Greemberg. De acordo com Hymes, nesse periodo desenvolveu-se nos círculos de linguística um clima de pesquisa mais sobre o que a linguística não tinha a ver que sobre o que ela tinha. Os estudos se centravam na perspetiva sincrônica da linguagem e na imanência e autonomia da forma linguística, dando às vezes a impressão de que a linguística não tinha nada a ver com significado e cultura. Não obstante, no momento em que “Directions in (Ethno)linguisctic theory” foi escrito – meados do século XX -, já começava a haver uma interação mais ativa entre a teorização linguística e outras disciplinas e ficava cada vez mais claro que a prática da linguística não poderia ser desenvolvida sem enfrentar questões de ordem filosófica, psicológica e, Hymes acrescenta, de ordem etnográfica.

O lugar especial da linguística entre as disciplinas humanas

Com tudo, a proposta de Hymes de abraçar a necessária interação da linguística com estas disciplinas não nega a autonomia da linguística como ciência. O autor, pelo contrário, salienta que a linguística tem um lugar especial na relação com as outras disciplinas e ele nomeia em particular três fatores que contribuem para esse lugar especial: os materiais, os métodos e a importância do assunto.

Em relação com os materiais, o autor observa que linguística teve um espaço privilegiado, como fonte de exemplos, conteúdo e método no quadro das ciências humanas. Um exemplo disso é a descoberta de Boas do inconsciente cognitivo em relação à linguagem que pode ser parafraseado como sustentando que os materiais da linguagem são cruciais para a teoria cultural porque, de todos os materiais culturais, eles são os menos acessíveis à consciência, portanto, as manifestações mais puras das operações dos processos culturais. Hymes acrescenta que a linguística tem também uma vantagem prática que é o fato de que um corpus adequado para muitos propósitos pode ser obtido muito mais facilmente para materiais linguísticos do que talvez para qualquer outro tipo. Porém, o autor adverte que a conformação de corporas tem que ser realizada levando em consideração fenômenos sociolinguísticos e o fato de que alguns participantes possam dar dados que se aproximam mais das nomas cultas do que é na prática falado na comunidade.

A respeito dos métodos, Hymes assegura que a linguística tem sido citada como a mais exata das disciplinas e é uma fonte de rigor e exemplo metodológico para outros campos. O autor salienta que, no entanto, o público que tem recorrido à metodologia da linguística consistiu mais frequentemente de antropólogos do que de membros de outras disciplinas. Em grande parte, esse fato tem a ver com o papel dos próprios materiais linguísticos como exemplos e conteúdo na antropologia. A metodologia da linguística tem influenciado à antropologia ao ponto de ter trabalhos tentando encontrar equivalentes diretos de unidades linguísticas em outros materiais culturais. De acordo com Hymes, tais esforços dificilmente poderiam ter sucesso, já que buscaram a equivalência de uma maneira muito mecânica ou superficial (por exemplo, “fonemas culturais”), apoderando-se do produto e não do sistema e princípios subjacentes. O procedimento adequado para aplicar a metodologia linguística não consiste em fazer analogias, mas em empregar uma base analítica comum. 

Ainda que a metodologia tradicional da linguística tenha um lugar especial, Hymes salienta que a metodologia de outras ciências também é necessária se pensarmos a linguística como uma teoria sobre a natureza da linguagem. Nessa perspectiva, a linguística vai desempenhar um grande papel no estudo e comportamento cultural em geral, portanto sua interdependência com outras disciplinas deve ser aceita, e as noções de sua primazia devem ser abandonadas. Em geral, para perspectiva, método e materiais com os quais elaborar uma teoria adequada da linguagem como um aspecto do comportamento cultural, incluindo seus papéis transculturais na cognição, deve-se recorrer não apenas à teoria da descrição linguística praticada pelos linguistas, mas também à teoria da psicologia, sociologia, antropologia e quaisquer outras disciplinas que se interessam pelo funcionamento da linguagem. 

O terceiro fator que outorga à linguística um lugar especial entre as disciplinas é, segundo Hymes, a importância do assunto. Que a linguagem é de central importância para a vida e a cultura humana, inúmeros ensaios e trabalhos tem observado. O autor salienta que ao defender consistentemente a importância da linguagem para o desenvolvimento do indivíduo, a manutenção da sociedade e da cultura, a antropologia evitou a armadilha de desconsiderar as características específicas da atividade da fala humana. No entanto essa defesa tende a desempenhar um papel estático, enfatizando que a linguagem é importante, mas sem a calibração que permitiria investigar a importância, seja da linguagem em geral, ou, comparativamente, das linguagens particulares. Uma razão para isso parece ter sido a preocupação em negar equívocos quanto ao status funcional inferior das chamadas línguas “primitivas”, levando a uma negação geral de quaisquer diferenças funcionais entre as línguas. Outra razão tem sido a suposição (em um contexto sincrônico) de homogeneidade dentro de uma língua e uma cultura, a discrição das línguas e seu conteúdo, e a equação, uma língua = uma cultura. Com isso, Hymes não quer dizer que os fatos óbvios de heterogeneidade, multilinguismo, diferenças individuais em competência linguística e coisas semelhantes fossem negados, mas que eles simplesmente não entraram em nenhuma teoria antropológica sobre a natureza da linguagem e seu papel cultural. Hymes aponta que existem estudos de diferenças transculturais na padronização e importância do comportamento relacionado com sexo, desmame, magia ou quase qualquer coisa que se queira nomear, e teorias gerais que tentam explicá-los, em busca do que tem sido descrito como tarefa da antropologia para explicar as semelhanças e diferenças nas culturas humanas; mas não há tal coisa para a linguagem. 

Assim, uma das tarefas mais importantes que a antropologia tem por diante é constituir o que pode ser chamado de etnografia comparativa da comunicação, que se preocupe com o papel diferencial das línguas e do comportamento da fala na socialização, personalidade, interação e estrutura social, valores culturais e crenças. 

Em síntese, três fatores contribuem para o papel que a teoria linguística tem, especialmente no que diz respeito aos estudos da cognição entre pessoas de outra cultura: a conveniência dos materiais linguísticos; o grau de precisão dos métodos e resultados linguísticos, acrescentando às exigências de controle prático da linguagem para o trabalhador de campo a atratividade de procedimentos que, se menos rigorosos e formais do que os da matemática, são mais do que os da maioria dos outros estudos de cultura; e finalmente, a importância amplamente aceita, embora de concepção variada, da própria linguagem.

A teoria linguística e sua relação com a etnografia 

A seguir, Hymes reconhece duas grandes linhas de pensamento que tem existido historicamente para propor o lugar da teoria linguística em relação com outras disciplinas. Uma das linhas de pensamento é a de ver a mente humana como base da integração, a outra a de ver  como base de integração a ação social. Um exemplo da primeira pode ser a filosofia das formas simbólicas de Cassirer (1923) e o apelo de Malinowski (1935) por uma teoria etnolinguística, um exemplo da segunda. A primeira linha de pensamento tende a enfatizar um conjunto de funções interdependentes e/ou produtos do funcionamento coletivo da mente humana: linguagem, mito, arte, religião, ciência e afins, buscando unidade em sua fonte e/ou congruência. A segunda linha de pensamento tende a enfatizar a estrutura e o contexto da ação social, buscando a unidade na integridade dos atos e eventos como ponto de partida da investigação e como moldura para a interpretação. Hymes considera que não deveria haver conflitos entre ambas as linhas ou uma necessária escolha de uma sobre a outra. Contudo, nesse texto, ele centra-se em considerações respeito da relação entre a linguística e a teoria cultural.

Um caminho para estabelecer essa relação entre a teoria linguística e a teoria cultural é tomar como base de trabalho os sistemas culturais particulares e o princípio de contraste entre elementos dentro de quadros garantidos como funcionalmente relevantes, que está na base da linguística estrutural, bem como a linguagem do processamento de informação. Este princípio metodológico pode ser unido ao princípio da nova abordagem etnográfica, também chamada de análise êmica pelo Pike (1954), que consiste, em termos do Hymes, em que “the object of analysis is not to be categorized in advance, but must have the categories  in terms of which it is stated warranted  inductively” (HYMES, 1964, p.17).

Hymes nota, neste contexto metodológico, que o nível comparativo ou universal depende das propriedades identificativas e contrastantes das características estruturais dentro de um sistema, pois sem elas a identificação comparativa não poderia ser feita. Hymes coloca como exemplo que não poderia ser investigado, transculturalmente, o conteúdo da distinção universal entre classes de substantivos e verbos, pois estes atribuem diferencialmente entre as línguas os papéis de “existentes” e “ocorrentes” a seus membros. O reconhecimento da constante é pré-requisito para a investigação da variação. 

Assim, em um sistema verbal como o de Marathi (Índia), com apenas uma voz, alguns estruturalistas argumentaram que a ausência de contraste com outra voz proíbe a nomeação usual da categoria de Marathi como “passiva”. Se deve dizer apenas que Marathi tem voz. Dentro da perspectiva de dois níveis estruturais, universal e descritivo, pode-se determinar que a categoria do Marathi apresenta características que respondem aos critérios para o “passivo” em outras línguas, e assim retém não apenas o nome, mas possibilidades mais profundas de investigar transculturalmente a categoria passiva. A falha no argumento do relativista estrutural radical aqui é esquecer que em uma linguagem que contrasta duas dessas vozes, sabemos qual rotular como ativa, qual passiva. O autor sustenta que devemos, de fato, ter um conhecimento identificativo em um nível geral, mas não adianta usar ele em alguns casos e depois negá-lo quando passamos para um sistema como o de Marathi. Esse argumento vale tanto para a categoria de voz em si quanto em geral. Resultados como os indicados no estudo dos universais da linguagem são, na perspectiva do Hymes, um campo de testes para a antropologia em geral, sempre desde que o modelo seja totalmente compreendido. 

Hymes continua apontando duas exigências que a teoria linguística deve fazer se quiser unir-se com sucesso em uma teoria geral e estudo da análise estrutural do comportamento cultural. A primeira é a congruência e continuidade metodológicas entre a teoria linguística e a área mais ampla de análise, implicando o reconhecimento de uma continuidade e semelhança subjacentes no próprio comportamento cultural. A segunda é que as especificidades da análise linguística (categorias gramaticais, relações sintáticas, contornos entoacionais, colocações, etc.) continuem sendo observadas e o estudo de sua alocação ao serviço de diferentes funções e componentes dentro do comportamento cultural seja parte da abordagem integrada.

O ponto deste segundo requisito é que, à medida que o escopo e o foco se ampliam para abranger o comportamento cultural em geral e as categorias analíticas empregadas pela sociologia, antropologia, psicologia e afins, não se deve perder de vista os meios linguísticos específicos que servem a outros fins. Hymes salienta que na antropologia, tem havido uma tendência para o estudo do comportamento cultural dicotomizar-se no estudo dos objetos usuais da descrição linguística, por um lado, e no estudo dos fins, propósitos, contextos e instituições em que a linguagem figura em segundo plano, por outro. Segundo o autor, tal situação pode ser adequada a uma posição teórica que vê a língua e a cultura como categorias separadas e paralelas, a serem analisadas separadamente, com as relações, se houver, a serem descobertas por comparação posteriormente. Porém, essa não é a visão que Hymes persegue com esse paper. Assim, o lugar em que termina a subcategoria da linguagem (ou comportamento da linguagem) deve ser empiricamente determinado, com respeito ao repertório disponível de modos comunicativos. O local pode diferir de comunidade para comunidade, assim como o conteúdo e a carga funcional atribuída a cada uma.

A contribuição da gramática transformacional para a integração da teoria linguística e a antropologia

A seguir, Hymes centra o foco da discussão em torno à linguística descritiva e aos hábitos linguísticos que tem a ver com a gramática. Em particular, Hymes vai se referir à gramática transformacional gerativa, primeiro quanto ao seu lugar entre outros tipos de teoria gramatical, e depois quanto à sua concepção dos objetivos da teoria linguística, e as implicações que tal concepção tem para uma abordagem etnolinguística. Nessas implicações são observados vários pontos de discórdia sobre o que há para descrever linguisticamente e estudar cognitivamente.

A gramática transformacional emergente dos anos 60 se apresenta como uma revolução científica que implica uma mudança de paradigma de pesquisa. Ela se estabeleceu como o ponto de referência para a discussão da teoria linguística. Hymes defende que tal posição da teoria transformacional é merecido e especialmente apropriado para a preocupação com a cognição. Não obstante as discordâncias que se possa ter com as formulações atuais, Hymes aponta o fato de que foi Chomsky quem efetivamente abriu a cena linguística americana para a discussão teórica que coloca a teoria linguística como uma teoria da cognição humana.

Ao tornar-se o foco da discussão da teoria linguística, a gramática transformacional tornou central para tal discussão um conjunto de visões interrelacionadas da natureza de tal teoria. Duas dessas visões são particularmente vitais, não apenas para a teoria linguística no sentido mais estrito, mas também para seu lugar em uma perspectiva etnográfica. A primeira visão é que a descrição é em si uma atividade teórica, e a segunda, que o alvo de tal descrição é a explicação de habilidades residentes nos usuários do que é descrito e, como corolário, que o resultado da análise deve ser aceitável para tais usuários. 

A visão de que o alvo da descrição é a explicação das habilidades dos usuários de uma língua fortalece uma abordagem estrutural, que se dirige aos códigos subjacentes às mensagens, e não às próprias mensagens. Além disso, a habilidade central para a visão transformacional, a de produzir e compreender novos enunciados, tem sido aceita no nível da teoria geral por muitos linguistas, muitas vezes no contexto de distinguir a comunicação humana daquela entre outros animais, ou em referência a fatos conhecidos de mudança e inovação. Essa habilidade pode ser formulada da seguinte forma: o usuário de uma língua pode não apenas entender sentenças (implicitamente novas), conhecendo apenas o significado das palavras e as regras de sintaxe, mas pode entender um conjunto infinito de tais sentenças, e pode fazê-lo com base na experiência de um conjunto que é finito.

Hymes sustenta que tal visão do alvo de uma teoria descritiva é útil para uma abordagem etnográfica adequada, e se integra perfeitamente com o critério geral para a descrição etnográfica proposto por Goodenough (1956, 1957), de que tal descrição deve permitir, em princípio, agir adequadamente como membro da cultura em questão. O critério de Goodenough pode ser interpretado em termos de explicar, em relação ao comportamento cultural em geral o tipo de habilidade que a teoria transformacionalista procura explicar em relação ao comportamento linguístico.

A etnografia da fala

Hymes salienta, contudo, algumas limitações do tipo da teoria linguística transformacional.

A primeira é que uma teoria linguística sincrônica sustentada pelo que os fatos comparativos e comportamentais permitiriam como habilidades sem referência a informações sobre configurações e sem variação significativa entre usuários de uma língua seria uma teoria linguística empobrecida, útil para análise lógica e a provisão de uma gama de variáveis experimentais, mas restritas de considerar a riqueza concreta do comportamento comunicativo mediado linguisticamente, e incapaz de lidar com toda a gama de habilidades, julgamentos de adequação e funções ali manifestadas. 

Em segundo lugar, tal teoria parece preservar, ainda que inconscientemente, a postura normativa implicitamente característica da teoria linguística ao prescrever seu objeto.

Em terceiro lugar, conceitos necessários como “falante nativo”, “falante fluente”, “uma língua”, “uma comunidade de fala”, bem como, implicitamente, certos tipos de ato e situação de fala, são pressupostos sem exame. Tais conceitos, se não fazem parte da teoria linguística, devem então fazer parte de uma teoria básica para a teoria linguística. Em ambos os casos, seu exame é etnolinguístico, envolvendo etnografia estrutural e etnologia comparada.

A quarta limitação salientada por Hymes é que conceitos como os de habilidade e aceitabilidade, se investigados de maneira completa, implicam consideração tanto de configurações, ou tipos de ato de fala, quanto de variação significativa. Sem uma explicação estrutural de ambos, a extensão em que uma teoria descritiva pode ser considerada uma teoria de qualquer língua inteira ou de qualquer comunidade de fala inteira fica seriamente prejudicada. 

Por fim, do ponto de vista de uma teoria geral da linguagem e seu funcionamento, é o caso de que algumas das funções das línguas nas comunidades exigem uma aproximação à independência de contexto, uniformidade simples e primazia da organização sobre a função de referência, três pressupostos tão comuns à teoria linguística descritiva, e algumas não.

O autor sustenta que para que a etnografia dê sua contribuição necessária à teoria etnolinguística, deve haver descrições de comunidades focadas na fala e na comunicação, como agora existem descrições focadas em economia, política, família e parentesco, religião e afins. Apenas uma abordagem etnográfica pode fornecer a análise estrutural de sistemas em andamento que devem constituir a base de uma teoria verdadeiramente geral da linguagem, sua forma, seu uso e sua mudança.

Nessa linha de raciocínio, Hymes (1962) inciou um quadro teórico para examinar a gama de fenômenos em questão sob o título etnografia da fala. Um primeiro ponto central desse quadro teórico é que é equivalente em função de uma carta fonética na análise fonêmica; é um meio para observar fenômenos que se mostrarão relevantes para o sistema em questão, e seu uso é preliminar para determinar esse sistema. A classificação dos fenômenos em termos de enquadramento não produz o sistema, cujos conjuntos, elementos e dimensões de contraste devem ser buscados em termos de relevância dentro do próprio sistema. 

A segunda caraterística desse quadro teórico é que o ponto de partida da análise deve ser a totalidade dos hábitos comunicativos (ou desempenho comunicativo) em uma comunidade. Somente a partir de tal ponto de partida é possível lidar de maneira “natural” e “reveladora” com as habilidades que os falantes nativos, fluentes ou não, realmente exibem. 

Em terceiro lugar, há três grandes categorias que são úteis como focos para examinar o desempenho comunicativo (ou hábitos, competência, etc.): eventos comunicativos como tais; os fatores constitutivos de tais eventos; e as funções neles desempenhadas. Enfocar os eventos como tais seria descobrir a terminologia nativa para tais eventos, analisando-a como um ou mais campos semânticos, e juntá-la com as outras técnicas de trabalho de campo, observação, entrevista e afins, para chegar ao sistema nativo como um todo. Enfocar os fatores constitutivos de tais eventos seria descobrir a terminologia nativa para tais tipos de fatores como tipos de remetente, fonte, remetente; tipos de receptor, destino, destinatário; tipos de forma de mensagem, como tipos de enunciado (pergunta, comando, gênero, estilo e similares); tipos de código (línguas, dialetos, níveis, variedades e similares); tipos de canal (falado, escrito, instrumental, cantado, etc.); tipos de assunto; e tipos de cenário ou contexto (verbal e não verbal, contexto de situação de Malinowski, etc.); e novamente vincular a análise semântica com outras técnicas para determinar os sistemas. Enfocar as funções servidas em tais eventos seria descobrir a terminologia nativa para tais tipos de função que correspondem aos vários significados de expressivo, identificativo, retórico, persuasivo, diretivo, poético, metalinguístico, contato, “comunicativo”, referencial, contextual e afins; e novamente para vincular a análise semântica com outras técnicas para chegar ao sistema. Os três focos são interdependentes.

Em quarto lugar, há de se identificar que tipos de eventos, fatores e funções existem; o que conta como instâncias de cada tipo; que hierarquia existe entre eles; todas essas coisas, e as respostas a outras perguntas do tipo, variam de um grupo para outro. Tanto as diferenças quanto as identidades envolvem o papel da linguagem na vida social ou cultural, incluindo seu papel no desenvolvimento intelectivo. O papel geral da linguagem pode ser postulado, mas os detalhes devem ser investigados etnograficamente. O uso da fala, em geral, e de qualquer língua em particular, como o uso de qualquer outro recurso natural ou social, varia culturalmente. 

Com esse quadro teórico incipiente, Hymes traça as bases de um caminho a ser seguido pela teoria linguística na busca por construir uma teoria mais geral da linguagem que possa explicar tanto as estruturas gramaticais e o léxico, quanto de que maneira a língua é usada pelos falantes.

Referências

CASSIRER, E. Philosophie der symbolischen Formen, Vol. I: Die Sprache. Berlin, Bruno Cassirer Verlag,1923.

HYMS, D. The ethnography of speaking. In Anthropology and  human behavior. Thomas Gladwin and William C. Sturtevant, eds. Washington, D. C., Anthropological Society of Washington, 1962.

MALINOWSKI, B. Coral gardens and their magic. Vol. XI. London, Allen and Unwin, 1935.

PIKE, K. Language in relation to a  unified theory of the structure of human  behavior, Part I. Preliminary Edition. Glendale, California, Summer Institute of Linguistics, 1954.

Mi nombre es Anabella, soy de Argentinasoy profesora de español y examinadora del DELE.

Tengo un grado en lingüística y literatura de la lengua española (Profesora de Letras), por la Universidad Nacional del Litoral, Santa Fe, Argentina.

Actualmente, además de dar clases de español, continúo mi carrera como lingüista haciendo investigación en gramática del español y variación lingüística en la Universidade Estadual de Campinas (Brasil).

Comparto mis escritos sobre literatura, lingüística y antropología en esta página web, además de mis unidades didácticas para aprender español.

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Anabella

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