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Estranhamento: Notas sobre a arte como procedimento de Victor Chklovsky

“A arte como procedimento” de Victor Chklovsky (1917) é um texto representativo da corrente teórico literária do formalismo russo. Nele, Chklovsky retoma debates em torno da definição de literatura e argumenta em favor da sua tese respeito à arte como procedimento de estranhamento.

O texto é atravessado por uma discussão acerca do conceito de arte como “pensamento por imagens”, amplamente difundido no contexto de Chklovsky. Seu principal precursor, Potebnia, afirmava que “não existe arte e particularmente poesia sem imagem” e que “a poesia assim como a prosa é antes de tudo, e sobretudo, uma certa maneira de pensar e reconhecer”. Devemos entender aqui o termo imagem como figura ou recurso (mimese, sinédoque, metáfora, etc.) que tem a função de economizar as energias mentais por ser mais simples daquilo que representa: um jeito de nomear o objeto desconhecido por meio de algo conhecido. Trata-se de uma teoria com uma perspectiva cognitiva: a arte é um meio para pensar outra coisa.  Um exemplo disto são os contos que trazem uma moral da história (com os quais, vale a pena mencionar, trabalhou Potebnia). Neles as imagens mais concretas, perto de situações mais familiares e, por tanto com menor custo cognitivo, conduzem à uma reflexão moral de caráter mais abstrato.

Chklovski enuncia dois problemas em torno da definição de arte (no caso que nos interessa, de literatura) de Potebnia. Em primeiro lugar, ele sinala o fato da arte ter mudanças ao longo da história. Em consequência, desde esta perspectiva a história da arte consiste na história da mudança da imagem. Porém, é constatado que as imagens são quase imóveis, elas se transmitem sem serem mudadas: “Quanto mais se compreende uma época, mais nos persuadimos que as imagens consideradas como a criação de tal poeta são tomadas emprestadas de outros poetas quase que sem nenhuma alteração” (Chklovski, 1917:41). A verdadeira inovação se encontra antes na disposição do material verbal e das imagens que na sua criação. Sendo assim, a ideia da arte como pensamento por imagens não funciona para definir a essência do desenvolvimento poético.

O segundo problema na teoria de Potebnia apontado por Chklovski é a questão de ele não ter percebido a existência de dois tipos de imagens: a imagem como um meio prático de pensar e a imagem poética, como meio para reforçar a impressão. Chklovski se refere à primeira como língua prosaica, isto é, uma linguagem quotidiana e prática para a comunicação. Por exemplo, andando pela rua achamos um homem com barba que deixa cair um pacote. Não conhecemos o nome do homem, então resolvemos chamar ele de “barbudo”: “Ei, barbudo, você deixou cair um pacote”. Aqui a imagem de sinédoque (o tudo pela parte) tem uma função econômica e prática na fala quotidiana, possibilita a nomeação daquele homem cujo nome não sabemos.  

Muito diferente é a imagem poética, um dos meios da língua poética.  A imagem poética reforça a sensação produzida por um objeto, ela cria uma expressão máxima. Para Chklovski a ideia da economia das energias criativas pode ter validez no caso da linguagem quotidiana (a língua prosaica) mas esta questão para a língua poética deve ser tratada no seu próprio campo.  A economia no discurso quotidiano facilita o reconhecimento do objeto e, por tanto, a comunicação. As palavras usadas para designar os objetos, as frases habituais para cada contexto automatizam o processo de percepção para chegar logo ao reconhecimento. A tese que Chklovski propõe é que a função da arte é “dar a sensação do objeto como visão e não como reconhecimento” (idem: 45). O procedimento da arte consiste em dificultar a percepção para demorar o reconhecimento do objeto mediante o trabalho com a forma.  Este procedimento é chamado por Chklovski de estranhamento.

O procedimento de estranhamento do objeto na arte pode ser estabelecido por diferentes meios. Chklovski traz o exemplo do texto Kholstomer de L. Tolstoi para ilustrar esta ideia. Nele a narração é conduzida por um cavalo e os objetos são singualizados pela percepção do animal. O direito de propiedade dos humanos é estranhado na narração do cavalo, vira um sem razão:

Compreendi muito bem o que dizia respeito dos açoteis e do cristianismo. Mas ficou completamente obscura para mim a palavra seu, pela qual pude deduzir que estableciam um vínculo a ligar-me ao chefe das cavalariças. Então, não pude compreender de modo algum em que consistiria tal vínculo. Só muito depois, quando me separaram dos demais cavalos, é que me expliquei a mim mesmo o que aquilo representava. Naquela época, eu não era capaz de entender a significação do fato de ser eu propriedade de um homem. As palavras ‘meu cavalo’, referindo-se a mim, um cavalo vivo, pareciam-me tão estranhas como as palavras ‘minha terra’, ‘meu ar’, ‘minha água’.

O estranhamento se produz em contraste com uma expectativa, um certo fundo, um contexto do que deveria ser. A arte permite, ao desautomatizar o reconhecimento, ver o objeto. Ver não é reconhecer. A visão só é conseguida demorando o reconhecimento. Potebnia coloca a arte em um contexto cognitivo: a arte é um meio para pensar outra coisa. Chklovsky constrói uma teoria da arte como percepção. A percepção da arte é um fim em si mesmo.

Referência bibliográfica:

CHKLÓVSKI, Victor. (1917) “A arte como procedimento”. In: TOLEDO, Dionísio de Oliveira (org.). Teoria da Literatura: Formalistas Russos (3ª ed.). Porto Alegre: Editora Globo, 1976, pp. 39-56.

Mi nombre es Anabella, soy de Argentinasoy profesora de español y examinadora del DELE.

Tengo un grado en lingüística y literatura de la lengua española (Profesora de Letras), por la Universidad Nacional del Litoral, Santa Fe, Argentina.

Actualmente, además de dar clases de español, continúo mi carrera como lingüista haciendo investigación en gramática del español y variación lingüística en la Universidade Estadual de Campinas (Brasil).

Comparto mis escritos sobre literatura, lingüística y antropología en esta página web, además de mis unidades didácticas para aprender español.

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